"O que nos entristece verdadeiramente e que nos torna amarga a existência referece-se sempre à relação com nosso semelhantes. Pessoalmente estou convencido de que sofremos quando somos mal-entendidos pelos outros e sentimos com isto aviltados, maltratados, desvalorizados."
Não são palavras minhas essas acima. São palavras de um artigo chamado "A Dor do Homem". Ele não considera a dor por problemas de mal-funcionamento do cérebro. E não dor física. Dor emocional mesmo. Tirando este parênteses, parece-me perfeito.
Por princípio a dor, a mágoa, a solidão, a angústia e sentimentos semelhantes são algo pessoal. Bem pessoal mesmo. Mas a psicanálise pode dar uma outra abordagem, ainda mais no que diz respeito ao sofrimento emocional. O outro, o nosso semelhante, de quem gostamos, porém quem não mais queremos como corpo, tende a nos querer sofrer, nos ver sofrer, nos fazer sofrer. Não deve impressionar isto. Assusta um pouco. O susto é o inacreditável com o inesperado.
Ser comunicativo traz ao homem boa vantagem. Ser comunicativo e culto leva um pouco ao inesperado e ao espanto. Ser comunicativo, culto e atencioso leva ao encanto. E ser encantador por um período leva ao amor. O amor pode ser correspondido, mas o amor pode ser ao mesmo tempo correspondido e dificilmente realizável. O sofrimento vem neste momento. O fazer sofrer aparece a partir de então.
Entristece-me verdadeiramente. Creio que fazer o outro sofrer, além de ser algo do inconsciente da pessoa, causa um alívio momentâneo. Ou um alívio duradouro se a pessoa realmente for muito fraca. Como eu tenho uma baita consciência disto tudo, meu cuidado com o sentimento das pessoas chega a ser como lavar uma taça de cristal. Não descuido da fragilidade.
Retomando o texto acima, "sofremos quando somos mal-entendidos", e eu acrescento: propositadamente mal-entendidos! Ainda que a pessoa não tenha plena consciência. O sentimento de amor pelo outro, que não mais correspondemos, turva as palavras porque ele espera veneno em tudo. Nunca néctar. Botar dois para conversar quando um quer ver o outro sofrer vira uma guerra de perdedores e cada vez mais desafetos. É triste. Talvez necessário. Mas é triste. De minha parte, escolho escrever para fazer o processo inverso: compreender e fazer refletir. Sou compreensível e reflexivo. Da vida, nada levamos. Poder deixar bons momentos para quem nos ama de verdade é uma dádiva. Dadivemos!